Soldado, que responde a processo por deserção, disse que foi humilhado e constrangido por tenente
O soldado da Polícia Militar Ricardo Borges Filho, de 27 anos, protocolou ontem no Ministério Público (MP) de Uberlândia uma representação contra o tenente Adílson Wagner de Andrade alegando que foi vítima de injúria e preconceito em relação à sua orientação sexual. Homossexual assumido, o soldado, que faz parte da corporação militar há oito anos, disse que, no dia 13 de abril, durante uma instrução ministrada pelo tenente Andrade na 169ª Cia da PM, no bairro Planalto, região oeste, foi humilhado e constrangido na frente de outros militares.
Segundo Ricardo Borges, na orientação a 10 militares, o tenente Adilson de Andrade teria dito sobre pessoas ruins dentro da corporação. “Ele citou ladrões, corruptos e usou o termo “veados”, se referindo aos homossexuais. Aí perguntei porque ‘veado’ era algo ruim e ele respondeu que era uma opinião dele. Em seguida perguntou se eu era e respondi: “Não sou veado, sou homossexual”, afirmou o soldado.
De acordo com o coronel Dilmar Crovatto, comandante da 9ª Região de Polícia Militar, a denúncia será apurada. “Todas as partes serão ouvidas e vamos concluir o que realmente aconteceu. Este é um fato isolado, primamos pelo respeito”, afirmou. O promotor Adriano Arantes Bozola, que recebeu a denúncia no MP, disse que vai analisar a representação e acompanhar o andamento do inquérito militar. “Há indícios de injúria, um crime militar. Vou solicitar as informações ao comandante e acompanhar as diligências”, disse.
Se as investigações provarem que houve injúria contra o soldado Ricardo Borges, o tenente Andrade pode perder o cargo e ser excluído da PM. Segundo o soldado Ricardo Borges, o acompanhamento do MP ao inquérito o deixa mais tranquilo. “Estou aliviado. Agora, um órgão externo vai acompanhar as ações. Espero não ser vítima de represálias no meu trabalho, senão vou novamente tomar providências”, disse.
O tenente Adilson Wagner de Andrade informou que o comando vai apurar os fatos e que por questões de hierarquia não pode conceder entrevistas. Mas afirmou que tem uma carreira a zelar e que “nunca fui nem sou preconceituoso”.
Processo por deserção
Autor da denúncia de injúria contra o tenente Adílson Wagner de Andrade, o soldado Ricardo Borges Filho responde a um processo por um crime militar. Segundo o coronel Dilmar Crovatto, o soldado é acusado de deserção – crime no código penal militar que se refere ao militar que se isenta do trabalho, sem licença, por mais de oito dias.
“O processo dele já está no Comando Geral em Belo Horizonte para decisão. Ele pode ser excluído da corporação. Mas, mesmo que seja essa a condenação, ainda cabe recurso”, disse.
De acordo com Ricardo Borges, o processo a que responde se refere a um período de dois anos em que ele morou nos Estados Unidos. Ele afirma não temer a perda do cargo. “Temos exemplos de militares que foram excluídos e reintegrados à corporação. A exclusão foi considerada arbitrária”, afirmou.
Caso é o primeiro da cidade
Atitudes consideradas preconceituosas contra homossexuais, não são novidade no país nem no ambiente militar. Em 2008, o Brasil acompanhou a história dos sargentos do Exército brasileiro Laci Araújo e Fernando Alcântara, que foram os primeiros a assumir a homossexualidade nas Forças Armadas, e foram vítimas de preconceito, sendo que um deles chegou a ser preso.
Em Uberlândia, este é o primeiro caso que vem à tona de homossexualidade entre militares. Mas, segundo o soldado Ricardo Borges, ele não é o único homossexual da corporação. “Existem vários homossexuais polícia. Desde soldados até oficiais”, afirmou.
Pesquisa
A professora e psicóloga Maristela de Souza Pereira, que coordenou uma pesquisa sobre discriminação em uma parada gay, diz que o preconceito numa corporação militar é fruto de uma falta de preparo para encarar as diferenças. “Acredito que há uma preocupação para lidar com o meio externo, e o interno é deixado de lado. Um despreparo e falta de respeito”, afirmou.
Fonte: Correio de uberlândia
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